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Mogno - fatos e mitos

  • Foto do escritor: Nave Mãe Elétrica
    Nave Mãe Elétrica
  • 10 de set. de 2016
  • 3 min de leitura

Quando o assunto é as madeiras utilizadas em instrumentos, geralmente o nome mais citado costuma ser o famigerado mogno: madeira referida como de tom vermelho escuro e “pesada”, apresenta um efeito ótico chamado chatoyance (mudança de cor ou brilho ao girar o material ou alternar o ponto de vista), rica em médios e graves, de timbre morno. Imortalizada pelo uso nos modelos da marca Gibson.

Ao longo dos anos, esse tipo de madeira vem se tornando cada vez mais escassa, ainda assim surgem cada vez mais fabricantes alegando que seu produto é feito dela. Apresentamos aqui uma pequena relação histórica e das espécies chamadas de mogno.

O círculo interno: Swietenia

É curioso analisar que o termo mogno foi primeiramente empregado para denominar uma única espécie de árvore - a swietenia mahogony - exclusivamente encontrada em Cuba. Historicamente estas enormes árvores rendiam excelente madeira, mas foram derrubadas para o plantio e povoamento de terras. As toras com mais de 30cm de diâmetro foram utilizadas como lenha, o que levou a espécie à beira da extinção. A partir de 1946, Cuba proíbe a exportação da madeira devido à alta demanda e devastação consequente. No mesmo período as demais fontes caribenhas já começavam a se extinguir.

Macrophylla: O termo é estendido à espécie macrophylla, também do gênero swietenia. Ambas são muito próximas em quase todas as características. A espécie macrophylla é encontrada do sul do México ao sul do Brasil. É conhecida popularmente por diversos nomes: mogno da Honduras, mogno brasileiro, mogno americano, mogno da folha-verde e mogno genuíno. E sim, é tão genuíno quanto o mogno original extinto nos meados do séc. XX em Cuba.

As espécies de mogno Swietenia apresentam variações de tamanho, densidade e cor, tudo dependendo das condições de crescimento e idade da árvore. Algumas peças apresentam coloração vermelha escura com faixas negras e outras são muito mais pálidas e leves.

S. Humillis: A terceira espécie do gênero swietenia, encontrada particularmente no México. No entanto, a árvore é bem menor que as duas já citadas e, como resultado, sua madeira tem qualidade muito inferior, apresentando diversos nós e grã irregular

Por ser de árvores silvestres antigas e muito bem desenvolvidas, o mogno cubano pode ser creditado como madeira de excelente qualidade, ao passo que todas as três espécies podem apresentar o mesmo nível se desenvolvidas em condições iguais.

Mogno Africano

O círculo externo: Khaya

Para muitos, o gênero Khaya é próximo o suficiente em aparência e características para carregar o rótulo de mogno sem controvérsia, entretanto é possível traçar parâmetros de distinção entre os mognos da América e os provenientes do continente africano.

Apesar de estarem localizadas em continentes diferentes e não serem do mesmo gênero, ao subir um degrau na escada botânica, de gênero para família, tanto o mogno quanto seus correspondentes africanos se encontram na mesma família: Meliaceae. Entretanto as variações de espécie do gênero Khaya (K. anthotheca, K. grandifoliola, K. ivorensis, and K. senegalensis) apresentam grã intercruzada, dificultando a usinagem.

Primos distantes: Meliaceae

Existe ainda uma enorme variedade de gêneros e espécies que são tecnicamente relacionadas ao mogno e podem ser encontradas em praticamente todo o globo. Podemos citar como notórios membros da família Meliaceae o Cedro Rosa (cedrela odorata), muito mais próximo do mogno genuíno do que de outras espécies de cedro; a Andiroba (carapa guianensis) e a Avodire (turraeanthus africanus), também conhecida como mogno branco por parecer uma versão loira do Mogno Africano gênero khaya , porém de qualidade muito inferior.

Fora da família

Há ainda uma série de madeiras chamadas de mogno que estão extremamente distantes da família Meliaceae: o mogno filipino (shorea spp), não tão resistente; o mogno de santos, também conhecido como cabreúva (myroxylon balsamum) e consideravelmente mais duro; e uma espécie de eucalipto chamada de mogno do pântano na Austrália (eucalyptus robusta).

Da esquerda para a direita: mogno filipino, cabreúva e mogno do pântano.

Considerações

Podemos dizer que mogno não passa de um rótulo, um produto. Ainda existe e é acessível, entretanto a qualidade da madeira que a tornou icônica é inalcançável devido a forma que a indústria produz e se alimenta da matéria prima.

É curioso considerar que no mesmo período em que Cuba proibia a exportação de suas árvores, devida a eminente extinção, Les Paul fundava o modelo homônimo e muitos outros imortalizados pelo uso de “mogno”.

O mogno encontrado hoje no mais caro dos instrumentos pode não passar de uma peça de qualidade duvidosa, por ser oriundo de uma árvore crescida e cortada de forma a visar a quantidade, não permitindo a formação como das silvestres.

A forma como o rótulo foi expandido de espécie em espécie até se perder o elo entre uma árvore e outra, demonstra claramente o quanto o nome se tornou uma marca, uma estratégia de venda.


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